Maysa nasceu no Rio de Janeiro, no dia 6 de junho de 1936, às 11h e 50, na casa de seu avô paterno que era médico e fez o parto. Filha de Alcebíades Guaraná Monjardim que quando jovem jogou futebol amador, formou-se em direito tendo exercido cargo de deputado no Espírito Santo. Monja como era conhecido, pertencia a uma família tradicional italiana onde seus antepassados seguiram a carreira militar e política.
Casou-se com Inah Figueira, linda moça de olhos claros, que havia sido coroada Miss Vitória. Inah, também pertencia a uma tradicional família do Espírito Santo, era mestiça de lusitanos com brasileiros. O nome de Maysa é uma mescla dos dois primeiros nomes de uma grande amiga de sua mãe, Maria Luysa.
Seu pai, o popular Monja, tinha muitos amigos no meio artístico do Rio de Janeiro e São Paulo. Costumava promover noitadas homéricas, em sua casa, regadas a uísque e muita música, com presenças quase obrigatórias de artistas como Silvio Caldas e Elizeth Cardoso. Monja era um hedonista em um clã que se orgulhava da ascendência histórica e nobre, mas mesmo assim precisou fugir de Vitória para casar com Inah, pois os seus pais não aceitavam a tendência que na época monja já demonstrava em ser um amante da vida noturna.
Mas os Monjardim pareciam ciganos, pois mudavam de casa com muita frequência. Viviam encaixotando e desencaixotando as coisas para mudança. Oscilavam entre morar em uma bela casa e em uma mais simples devido às perdas de dinheiro de Monja em jogatinas. Aos 6 anos, Maysa ganhou um irmão, o Alcebíades (Cibidinho).
Contradizendo as fotos do lindo bebê que foi, Maysa dizia: “Eu era uma criança de cabeça grande, de olhos enormes e corpo miudinho. Um monstro.” Chegada a hora de ir para a escola, e seus pais muito conservadores a matricularam no Colégio Assunção e em seguida no regime de internato do Sacre Coeur de Marie. Ambas as escolas eram dirigidas por freiras francesas onde imperava uma rígida disciplina religiosa e moral. Maysa nunca foi boa aluna e com a chegada da adolescência o problema se agravou, com queixas e notas ruins, os pais a trocaram de escola matriculando-a no Externato Ofélia Fonseca, no bairro do Pacaembu. Maysa foi reprovada no 2º ano ginasial, e cursando novamente a mesma série tornou-se uma líder natural do grupo, chamando a atenção por seu modo de vestir e agir. Segundo um de seus primos, aos 14 anos Maysa já teria tido vários namorados e foi nessa época que começou a ter seus primeiros desentendimentos com a balança, de acordo com seus exames médicos escolares, neles aparecia à tendência a ganhar peso do dia para a noite. Maysa começou a escrever seus diários. Seu quarto era bagunçado, ela era muito carente e nutria uma paixão pelo cinema. Adorava se trancar no banheiro e cantar. Aos 12 anos ela compôs a música “Adeus”, depois de uma discussão com os pais que eram ausentes devido à vida boêmia do pai, que era acompanhada pela mãe.
Maysa quase não os encontrava, quando ela saia para a escola os pais ainda se encontravam dormindo e ao chegar da escola eles nunca estavam.
Por seu comportamento na escola Maysa levava ao conhecimento de seus pais um bilhete que deveria voltar assinado no dia seguinte, mas com a vida boêmia que levavam Maysa tinha dificuldade de encontrá-los em casa, então perdia aulas até que pudesse levar o tal bilhete assinado.
Na época as meninas de famílias tradicionais estudavam piano, e Maysa estudou piano clássico durante 8 anos, porém nunca teve interesse pelo mesmo, gostava era de violão, que para as meninas era um instrumento mal visto pela sociedade naquela época.
Maysa e André Matarazzo se conheceram em Poços de Caldas ela tinha 5 anos e ele 22 anos. Maysa cresceu vendo André sentado na sala de sua casa. Os pais de Maysa não viram com bons olhos o interesse de André por Maysa, e mandaram-na para a casa da tia em Vitória. Mas de nada adiantou, pois Maysa recebia ligações de André e já estava caidinha por ele. Com a segunda reprovação consecutiva do 2º ano ginasial no Ofélia Fonseca, os pais tentaram transferi-la para o tradicional Colégio Mackenzie, porém o colégio a recusou devido ao seu histórico escolar. Diante disso Maysa desistiu dos estudos não concluindo o ginásio. André convenceu os pais de Maysa que seu real interesse por ela era sério e que seria para casar. A diferença de idade entre eles era de 17 anos. Mesmo namorando André, Maysa não deixava de paquerar outros rapazes, o que provocava brigas entre os dois e Maysa acusava André de ser egoísta, em seu diário. Mas ao ficar longe de André, durante uma viagem dele a Europa, Maysa percebe que sente saudades dele. Quando André volta, Maysa faz com que ele tome uma decisão quanto ao rumo do namoro que já durava um ano e meio. Assim, em 24 de janeiro de 1955 eles se casam na Catedral da Sé, Maysa tinha apenas 17 anos e André 34. Eles passaram a lua-de-mel na Europa e ao voltarem Maysa reclama das obrigações de mulher casada. Morando na mansão Matarazzo com a família de André, não era nem de longe a vida que esperava, Maysa se sente entediada. Ela escrevia em seu diário o número de peças de roupas, bolsas e sapatos que adquiria. Ela fica deprimida devido ao ócio. Maysa engravida e no meio da gestação já está pesando cerca de noventa quilos. Em 19 de maio de 1956 nascia seu único filho Jayme Monjardim Matarazzo. Devido a complicações no parto, Maysa não poderia mais engravidar. Em 1956, ainda durante o período de gravidez, Maysa é convidada por Renato Corte-Real para gravar um disco. André não concorda com a idéia, porém acabou cedendo para ver sua mulher feliz, mas fez algumas exigências de que ela não se apresentasse como uma cantora profissional e que a renda do disco fosse doada para o Hospital do Câncer. Outra exigência seria que na capa do LP não fosse estampada a foto de Maysa.
Ela espera o bebê nascer para gravar o disco. O lançamento de “Convite para ouvir Maysa” aconteceu no dia 20 de novembro de 1956, seu filho Jayme tinha então 6 meses. Em 1957, começaram os desentendimentos entre Maysa e André, pois Maysa estava certa de que queria se tornar uma cantora profissional, porém o marido não concordava com a opinião da mulher, dizendo que o nome dos Matarazzo seria manchado. Maysa argumentou com André dizendo que de nada adiantara então ter gravado o disco para a arrecadação de fundos para o hospital do Câncer já que o trabalho não receberia um níquel se quer, pois ninguém sabia da existência do mesmo. Assim André concordou com a divulgação das músicas de Maysa nas rádios, porém iria com ela para o Rio de Janeiro para a apresentação nas rádios que começou com a Rádio Mayrink, e depois na Rádio Record em São Paulo. Durante a apresentação da Rádio Mayrink Maysa viu parte da platéia indo embora e acreditou que aquilo era uma suposta armação feita pela família do marido, depois da apresentação Maysa disse a André que nada mais seguraria sua carreira nem mesmo o imenso amor que sentia por ele. Maysa recebeu uma proposta para apresentar um programa semanal de televisão no canal Record, onde receberia 100 mil cruzeiros mensais. Mesmo com o casamento por um fio, Maysa aceitou a proposta e estreou o programa no dia 13 de março de 1957. Assim surgiram propostas para Maysa como entrevistas e shows. André perdeu o controle da situação e deu um ultimato a esposa, ou ela optava pelo casamento ou pelos microfones e a resposta veio em forma da canção: “Ouça”.
André e Maysa se separam e nessa época o envolvimento de Maysa com a bebida se acentuou, antes de enfrentar os microfones sempre tomava uma ou duas doses de uísque. Na infância Maysa tinha o hábito de beber os restinhos de licores que ficavam nas taças depois que as visitas dos pais iam embora.
Maysa passou a ser muito criticada pela mídia pelo seu jeito de se vestir, pelas canções que cantava, pela entrevista que não queria dar. Seu jeito de ser era criticado, o seu nome já estava estampado nas manchetes dos jornais, pois no Brasil dos anos 50 a sociedade não aceitava que uma mulher desquitada cuidasse da própria vida.Ao se separar de André, Maysa não aceita um centavo da família Matarazzo, e como ficara com a guarda de seu filho Jayme, que na época estava com 1 ano e 3 meses, o neto ficou sob os cuidados dos avós maternos, em São Paulo, enquanto ela trabalhava. Maysa tentou buscar a felicidade, porém enfrentou seguidas crises de depressão, o que a levou a comer e a beber de forma desregrada, trocava o dia pela noite. Diante das câmeras Maysa chegou a cambalear durante as apresentações de seus programas, as pequenas doses que a cantora tomava antes das apresentações foram substituídas por litros de uísque e vodca.
Renovou o contrato com a RGE agora como cantora profissional, pois na época se exigia a carteira, mesmo para fins artísticos.
Tem início uma sucessão de escândalos, Maysa não compareceu aos shows agendados nas cidades de Salvador, Aracaju e Fortaleza.E foi levada pelo empresário aos tribunais, exigindo pagamento de uma indenização calculada em meio milhão de cruzeiros, porém o caso foi arquivado. Maysa disse que o empresário não pagou o adiantamento como estipulado no contrato por isso ela não compareceu aos shows. Numa viagem de descanso a Três Rios, no interior do Rio de Janeiro, ela protagoniza outro escândalo, depois de umas doses de bebida, Maysa passou o dia desfilando num conversível com um vestido roxo e decotado e depois decidiu tomar banho completamente nu, no rio Paraíba do Sul, escandalizando a pequena cidade.
Logo após o carnaval de 1958, Maysa lançou o disco “Convite para ouvir Maysa Nº 2”, esse LP incluía a música “Meu mundo Caiu” de autoria da própria cantora.
Nessa época Maysa teve um rápido romance com o produtor de programa Carlos Alberto Loffler. Durante os shows em boates, Maysa parava de cantar caso ouvisse alguém conversando nas mesas, chegou a atirar o microfone e os sapatos na cabeça de um falante mais insistente. Maysa também perdia a paciência com os fotógrafos e repórteres e muitas vezes as respostas aos questionamentos deles era seca.
Maysa com 22 anos era uma das jovens mais bem pagas da música brasileira, incluindo cachês, contratos com rádio e televisão, comerciais e direitos autorais.
Em uma terça-feira, 11 de fevereiro de 1958, os vizinhos foram acordados por um grito de mulher no meio da noite, era Maysa que tentara se matar cortando o pulso esquerdo com gilete. A imprensa não deixou de explorar a coincidência de que no dia anterior o compositor Assis Valente (autor de músicas cantados por Carmem Miranda), cometera suicídio ingerindo uma mistura fatal de guaraná com formicida.
Alguns dias depois de receber alta do hospital, Maysa negou a tentativa de suicídio, dizendo que se cortara com o vidro da janela, porém os prontuários do Hospital Miguel Couto não diriam a mesma coisa. Maysa já havia tentado o suicídio anteriormente. Foi duas tentativas de suicídio, a primeira, aconteceram alguns dias depois de colocar o namorado para fora de casa aos pontapés, um playboy chamado Marco Túlio Galvão Bueno, e asegunda tentativa, pode ter se dado pelo triângulo amoroso entre Maysa, Cesar Thedin e Elizeth Cardoso deixando Maysa mortificada, momentos antes de se apresentar no Club 36.
Maysa, com um pouco mais de 1 ano de carreira, atingira o topo do sucesso. Foi cantora revelação de 1957 e nessa mesma época estrelava dois programas, um na TV Rio e em São Paulo na TV Record. A cada semestre, a conta bancária engordava cerca de meio milhão de cruzeiros só em direitos autorais. Em janeiro de 1958, fez a primeira viagem Internacional ao Uruguai, para se apresentar como cantora. E nesse mesmo ano participou cantando em quatro filmes: Matemática Zero, Amor Dez de Carlos Hugo Christensen; O cantor e o milionário de José Carlos Burle; O Batedor de Carteiras de Aloísio Tide de Carvalho e Camelô da Rua Larga de Hélio Barroso e Eurípides Ramos. No filme, O Batedor de Carteiras, chegou ao meio da madrugada quase de manhã para gravar e o diretor havia combinado com ela no final da tarde. Maysa pediu para o contra-regra comprar um litro de vodca para ela.
No final desse ano, o jornal Última Hora estampou na primeira página “Maysa ferida: jogou seu carro contra o caminhão”. Era madrugada, por volta das 3h e 30. Maysa esborrachou seu carro na traseira do caminhão que estava estacionado sem nenhuma sinalização junto ao meio fio da Avenida Atlântica, a principal via de Copacabana. Horas antes de ocorrer o acidente, Maysa havia saído dos estúdios da TV Rio, onde apresentava o programa semanal na emissora, passara em casa e saíra sozinha, depois da meia–noite, quando um homem que ninguém sabia dizer quem era, insistiu para que o porteiro o deixasse entrar no prédio, identificando-se como sendo marido de Maysa. Depois disso Maysa saiu cambaleando. Com o acidente, Maysa, precisou de uma sutura de oito pontos no queixo. No ano de 1958, não teve um único dia que a cantora não fosse notícia de jornal, seja em colunas de fofoca, ou em manchetes sobre seu comportamento.
O acidente com o carro deixou Maysa com uma cicatriz um pouco abaixo do queixo, a maior de todas as cicatrizes, do lado esquerdo. Depois de um mês de repouso em sua casa, Maysa percebeu que não adiantava se esconder. Depois de muitos boatos, dizendo que a carreira da cantora havia acabado Maysa respondeu que nem de longe cogitou em encerrar a carreira. No início de março, Maysa, estava na boate Oásis com alguns amigos e com o pai, quando uma briga começou na mesa ao lado, com muitos socos, dente e braços quebrados.
No dia seguinte os jornais noticiaram que Maysa havia começado a desordem, ao espatifar uma garrafa na cabeça de um moço que teria lhe endereçado uma piada de mau gosto e que seu pai se meteu no barulho, assim Maysa e o pai foram encaminhados para a delegacia.
Maysa participou do programa Preto no Branco que era famoso tanto pelas incomodas perguntas, quanto pela iluminação que nada escondia.
O jornal Última Hora trouxe um pretenso perfil psicológico sobre a cantora assinada por um tal Dr. T, um “notável psiquiatra”, que escreveu um texto que fazia um arremedo da teoria freudiana, para concluir que Maysa era um caso clínico.
Segundo o Dr. T, “analisou”, Maysa era uma mulher contra o mundo, tomando por base a forma como ela se apresentava diante das câmeras de televisão, a gravidade da voz e o tipo de canção preferido por Maysa apontam um traço melancólico marcante, de sua personalidade. A parte nasal, com o abrir e fechar das narinas em inspiração profunda revela idêntico sintoma. A expressão dos lábios, com o movimento para baixo, exibe comissuras reveladoras de desdém. O “psiquiatra” sugeria que a tristeza de Maysa era patológica e que a moça estava necessitando, imediatamente, de tratamento profissional adequado. Resumindo, era uma criatura perturbada.
Após uma semana Maysa acabou por dar crédito ao diagnóstico do Dr. T, por estar bêbada, Maysa fez com que o vôo que iria de São Paulo ao Rio de Janeiro atrasasse, causando um tumulto no avião. A aeromoça pediu para que ela se retirasse da aeronave, por ordem do piloto, Maysa ficou furiosa e esbravejou, se negando a sair do avião e causando brigas verbais com os demais tripulantes. Apesar da necessidade de divulgar dois LPs, Maysa pediu licença de seus trabalhos para descansar e assim passar alguns meses fora do Brasil. Maysa forneceu diferentes versões sobre a viagem. Em uma versão dizia que fechara um contrato milionário para fazer apresentações em Lisboa, Londres, Roma e Paris. Depois informou que desistira da turnê e que faria apenas uma temporada de descanso na Europa. No início de 1959 foi lançado que faria apenas uma temporada de descanso na Europa.
Durante a estadia em Portugal, Maysa foi reconhecida por um empresário português que a convidou para fazer uma temporada no famoso Casino Estoril. Maysa em uma entrevista disse que nem no Brasil havia um público tão carinhoso quanto o de Portugal.
Em Paris, Maysa se identificou com o espírito dos jovens que com ar de desencanto, vestindo jeans surrados e os indefectíveis suéteres pretos de gola role, perambulavam pelos bares e cafés de Paris, porém Maysa foi mais radical e perambulou a esmo e chegou a dormir em bancos de praças e parques da cidade, foi conhecer de perto o submundo dos vagabundos e boêmios das ruas de Paris e brindava com eles dizendo “A vós que compreendeis o absurdo da vida”. Foi em Paris que Maysa cantou pela primeira vez “Ne me quitte pas” de Jacques Brel. Na volta de sua viagem Maysa queria publicar um livro de poemas chamado “Comigos de mim”.
Após 4 meses Maysa voltou para o Brasil e estava irreconhecível - 10 quilos mais gordas, pesando cerca de 90 quilos, seus dentes estavam estragados e estava com um par de olheiras horríveis. Durante essa viagem, um fotógrafo brasileiro localizou Maysa e fez uma entrevista para a revista O Cruzeiro. Nessa matéria surgiu que Maysa tentara o suicídio por 28 vezes, fato não comprovado e que uma dessas vezes teria sido no Rio Sena. E que seu desejo era fazer uma turnê acompanhada de Charles Chaplin ou de um vira-lata, justificando o Chaplin por ser a sua outra metade e que não cruzou seu caminho e o viralata porque tem estofo, vasculha latas de lixo, não é propriedade de ninguém. Durante a entrevista Maysa disse “Esta revolta íntima contra tudo, esta insatisfação, esta fuga de mim e, ao mesmo tempo, esta eterna procura de meu eu é que me torna infelicíssima.”
Enquanto esteve fora do país, André Matarazzo, seu ex-marido, casou-se com uma estrangeira, Miss Israel de 1954, Vivi Matarazzo. Maysa disse que André se atrasou e que ela já tinha um novo amor, o lusitano e jornalista Vitor da Cunha Rego, porém o romance como todos os outros não foi longe.
Na noite de 24 de outubro de 1959, morreu uma grande amiga de Maysa, Dolores Duran, que sofreu um ataque cardíaco durante o sono, aos 29 anos. Maysa sofreu um grande baque com este acontecimento. Maysa sumiu de circulação, sua última aparição foi no baile de Carnaval Municipal de 1960, estava de maiô e quando a foto foi publicada Maysa viu que seu corpo estava deformado e chorou dias seguidos e dizendo que ela própria não mais se reconhecia. Em Paris, confessou ao jornalista de “O Cruzeiro”, que uma vez tentara suicídio depois de se ver no espelho do banheiro e se deparar com uma mulher em ruínas.
Um jornalista da Radiolândia descobriu que Maysa fora internada no hospital Nossa Senhora do Carmo, com uma crise de pressão baixa, provocada pela ingestão combinada de uísque e um punhado de comprimidos para dormir. Quando recobrou a consciência, Maysa pediu aos médicos para ficar no hospital e aproveitou para fazer uma cirurgia no abdome para se livrar das gorduras extras e realizar plástica no rosto para se livrar das cicatrizes. Os médicos concordaram. Além das cirurgias, Maysa foi alvo de um tratamento psicoterápico à base de antidepressivos e uma rigorosa desintoxicação alcoólica, além de ser submetida à sonoterapia, indução artificial do sono por longo período mediante o uso de drogas, técnica que era indicada para casos de psicoses agudas, depressões melancólicas, agitações ansiosas e síndromes psicossomáticas com risco de suicídio.
A cantora saiu do hospital mais magra e mais bonita. Disse que o motivo de sua internação era o cansaço e quando um dos repórteres lhe indagou sobre álcool prometeu parar de beber, que dali por diante seria apenas leite. Parecia estar diferente, mais feliz e tinha uma surpresa, uma vez por semana daria plantão noturno no hospital como enfermeira voluntária, assim Maysa voltou a morar em São Paulo. O médico orientou que Maysa reduzisse sua carga de trabalho, porém ela não seguiu as orientações, estando com a sua agenda atribulada: as segundas apresentava o programa na TV Tupi (RJ); às terças apresentava seu programa na TV Itacolomi (MG); as quartas fazia seus programas na TV Record, as quintas daria plantão no hospital e as sextas se apresentava na Radio Mayrink (RJ).
Em junho de 1960, lançou outro LP “Voltei”, era um LP de transição para a bossa nova. Maysa foi contratada pelo jornal Diário da Noite (jornal carioca) para escrever uma coluna diária chamada “Maysa faz o diário da Noite”, porém Maysa nunca escreveu uma única linha, quem redigia o texto era o jornalista Raul Giudicelli, que recebeu carta branca para escrever sobre o assunto que bem entendesse, ele nada recebia por isso. No meio do ano Maysa avisou que “escreveria a coluna” do Japão devido a um convite que recebera da Empresa Real Aerovias para um vôo inaugural entre Rio de Janeiro e Tóquio.
A cantora fez uma aparição na televisão japonesa, onde acabou se irritando com o apresentador que avisou que todos estavam ansiosos para ouvi-la cantar e para saber se o Carnaval era a maravilha que era mostrada no filme Orfeu Negro. Maysa respondeu que o tipo de música que ela cantava nada tinha a ver com o samba do filme. Durante a apresentação Maysa segurava um cigarro entre os dedos. Apesar da irritação, Maysa agradeceu e ficou lisonjeada por ser a primeira cantora brasileira a cantar no Japão.
Nos EUA, fizera contato com empresários norte-americanos e trouxe de lá, contrato assinado com a agência e produtora Associated Booking Corporation, a rede de televisão ABC, para se apresentar durante 3 anos. Os assessores sopraram aos ouvidos de alguns repórteres que Maysa, embolsaria cerca de 5 mil dólares – equivalente a 1 milhão de cruzeiros por semana. Maysa trouxe na volta dessa viagem um York Shire, chamado Talismã, escondido da frasqueira, dizia que ele lhe dera muita sorte e que fora comprado por 50 mil cruzeiros, diferentemente do que disse meses atrás sobre o vira-lata.
Um dos cacoetes mais lembrados pelos amigos que conviveram com ela, era que ela enrolava e desenrolava, de forma compulsiva, a fitinha dourada da embalagem do cigarro, com o dedo indicador e médio. Era um sinal de que já estava tensa ou que já havia bebido.
Maysa protagonizou um vexame no aeroporto de Los Angeles, quando o avião fez a escala, todo mundo queria descer, menos Maysa, ela não desceu com os demais passageiros. Ela estava acompanhada da mãe, Dona Inah, tentou demovê-la da idéia de não descer do avião. Maysa só desceu quando reencontrou uma amiga Marlene Maria de Lucas de Oliveira, dos tempos do Sacre Coeur de Marie e do Ofélia Fonseca e que agora trabalhava na embaixada brasileira em Los Angeles se prontificou a tirar Maysa do avião.
Marlene encontrou Maysa alterada, tensa, sinal de que já bebera além da conta. Com a surpresa de reencontrar a velha amiga, Maysa, resolveu descer e a seguir para o hotel, cambaleando, fazendo festa, amparada pela amiga.
Em 1960, Maysa, lançou mais um álbum, “Maysa canta sucessos”. Nesse álbum, Inah Monjardim se lançou como compositora. Nesse mesmo ano, Maysa, revelou que perdera uma fortuna em uma roleta em Las Vegas, a capital mundial do jogo. Chegara a oferecer ao crupiê o colar de pérolas para continuar apostando no seu número da sorte, o 13, que insistiu em não sair naquela noite. Com as mãos abanando, sem colar no pescoço, acabou por recorrer ao pai, Monja, para sair do aperto financeiro, telefonou e pediu-lhe que enviasse mais dinheiro do Brasil.
Maysa foi para os Estados Unidos onde ficaria 3 anos para cumprir contrato com o dono da Boate Blue Angel em Nova Iorque, deixou seu filho aos cuidados de seus pais, Dona Inah e Monja. O dono da boate acreditava que Maysa poderia ajudar a reerguer a boate. Após duas semanas de chegar aos Estados Unidos, à cantora escreveu para um colunista brasileiro, relatando sobre seu grande sucesso em Nova Iorque, sendo noticia em jornais, revistas. De fato, Maysa era notícia, porém saía em pequenas notas, muitas vezes escondidas entre as várias notícias dos jornais. Após um mês do início das apresentações em dezembro, o Blue Angel anunciou que a cantora passaria alguns dias sem se apresentar, pois estava gripada e afônica. Os norte-americanos não sabiam, mas Maysa estava novamente enfrentando problemas com a bebida e passara a faltar aos compromissos acertados com Max Gordon. Longe da família e dos amigos, Maysa encarou surtos depressivos naquela friorenta Nova York coberta de neve e iluminada para o Natal. A melancolia a empurrou ainda mais para o álcool. Bebia para esquecer as mágoas e espantar a solidão, mas as bebidas e as ressacas só contribuíam para deixá-la mais arrasada. Monja viajou pra os Estados Unidos aconselhando Maysa a voltar para casa, porém a cantora não deu o braço a torcer. Nessa época, Maysa reencontrou um famoso ator argentino Duílio Marzio que havia sido seu namorado. Reataram o romance.
No Réveillon de 1960 para 1961, Maysa deu uma festa em seu apartamento alugado, onde se encontravam os amigos do casal, depois de muitas doses de uísque, a cantora ficou agressiva e começou a atirar objetos, cinzeiros, vasos, bibelôs para todos os lados, atingindo alguns convidados. No 1° dia do ano de 61, Duílio acordou assustado e viu o cobertor em chamas, Maysa, havia dormido com um cigarro aceso entre dedos e quase provocara um incêndio no quarto. Maysa e Duílio ficaram mais uma semana juntos e depois Maysa se despediu dele sem maiores formalidades.
Ainda em 1961, Maysa, assinou contrato com a Columbia Norte–Americana, gravando um LP “Maysa sings songs before daw” nos estúdios da produtora. Tudo indicava que a produtora estava disposta a investir na cantora brasileira. Mas a cantora voltou para o Brasil, porque o Blue Angel nem a produtora Associated Booking Corporation não quiseram renovar seu contrato, pois ela deixava as platéias e os donos das boates a ver navios. Em certas apresentações Maysa ameaçou os clientes que estavam conversando, os norte-americanos não aceitaram tal atitude de Maysa. Ao voltar, a cantora disse que era ela que decidira dar um tempo na relação com os Estados Unidos. Voltou muito acima do peso devido ao abuso de álcool. Ao voltar Maysa reencontrou o jornalista Ronaldo Bôscoli e se envolveram, mas Bôscoli era noivo de cantora Nara Leão, e o que ele realmente queria de Maysa era a sua voz para a Bossa-Nova.
Eles iniciaram um romance. Nesta época, a Revista Manchete propôs a Maysa um desafio: que ela fizesse uma auto-entrevista, perguntando a si mesma tudo o que nenhum jornalista jamais tivera a coragem de lhe perguntar, com o compromisso de que respondesse a tais questões sem nenhuma censura. Bôscoli aconselhou Maysa a fazer a auto-entrevista e a cantora topou. O título da matéria foi:
“Maysa enfrenta Maysa”.
Você é masoquista?
As vezes. Considero masoquismo aturar sem queixas uma porção de pessoas. Detesto gente burra e vivo me encontrando com elas.
Se, é só este o seu masoquismo, por que você vive atritando fitas de papel com os dedos, até fazê-los sangrar?
Até sangrar é exagero. Tenho este hábito desde menina. Acho que é uma preparação inconsciente para enfrentar as dores que o destino sempre me reserva. Dor física, aliás, jamais me fez medo. Tenho medo apenas do que não depende de mim: amar e não ser amada, por exemplo.
Seu êxito dependeu apenas de seu talento?
Já fiz muitas concessões para obter sucesso e hoje estou profundamente arrependida. Agora não há fabricante de discos que me faça gravar o que eu não sinta.
Caso fosse possível você deixaria de cantar imediatamente?
Não, para a gente deixar de fazer qualquer coisa que nos afirme é preciso substituí-la, sempre, por algo melhor. Para mim, a única coisa melhor do que cantar seria... Cantar só para quem eu amasse.
Eu sei que você não “ama” seu atual publico no Copacabana. Mas pelo menos gosta dele? Por enquanto, não. Grãfino, geralmente, não gosta de musica e muito menos de artista brasileiro.
É por isso que você bebe minutos antes de cantar?
A bebida é a bengala de um velhinho que mora em minha personalidade. Mas tenho certeza de que uma criança que existia em mim, antes de tantas coisas acontecerem, um dia voltará.
Só então saberei quem sou.
Mas você não bebe somente antes de entrar em cena, não é? Por que você bebe de modo geral?
Primeiro porque quero. Depois porque trabalho para pagar o que eu bebo. Finalmente, porque tenho senso de autocrítica. Muitas vezes reconheço-me insuportável e eu só suporto os insuportaveis bebendo.
Você acredita que um dia deixará o álcool?
Deixarei a bebida quando encontrar o amor. Mas para amar é preciso estar preparada.
Quero, preciso e ainda amarei.
Você se sente sozinha? Tem medo de ficar sozinha?
Pavor. Quando estou só, tenho certeza de que sou maior do que eu mesma e isto me apavora. Ninguém deve conhecer a sua própria dimensão.
Você já tentou se matar algumas vezes. Em qual delas foi sincera?
Em todas. Mas nenhuma eu queria morrer imediatamente. Por isso morria pouco. Só uma coisa me faria morrer até o fim: "o amor."
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