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1 de julho de 2008

Semana Luiz Antônio: 20 anos de resistência cultural


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Araraquara, 18 de junho de 2008- Às vésperas da abertura da 20ª edição da Semana Luiz Antônio, uma reflexão dos criadores do evento




Parte do grupo de artistas que criaram a Semana Luiz Antônio Martinez Corrêa: Sueli Ferrers, Maribel Santos, Francisco di Carlo, Euzânia Andrade, Bernadete Guimarães (atrás); Marcelo Henrique de Lima, Luiz Amaral, Edna Portari e Lauro Monteiro (na frente)
Na próxima sexta-feira, quando o Cortejo Dionisíaco abrir a 20a edição da Semana Luiz Antônio Martinez Corrêa, um grupo específico de artistas locais terá uma delicada - e reverentemente particular - emoção para festejar. Afinal, foi a partir de um movimento de resistência cultural encampado por essa turma que nasceu, entre outras conquistas do setor cultural de Araraquara, a Semana Luiz Antônio Martinez Corrêa.

Realizada pela primeira vez em 1989, a Semana representou, na época, o ponto alto do Movimento Pró-Política Cultural de Araraquara, criado como grito de protesto ao fechamento dos espaços culturais da cidade. “Durante um período, o acesso à arte em Araraquara era totalmente elitista”, pontua o ator Francisco di Carlo, durante entrevista ao Tô!Ligado de parte do grupo que integrou o movimento.

Tida como concretização de uma luta, a primeira edição da Semana Luiz Antônio também fechou com chave de ouro uma década inteira de ações culturais populares em Araraquara. Depois de ter abrigado a Escola Mackenzie (primeira sede da Faculdade de Filosofia, que gerou a criação da Unesp local), a Escola Estadual Bento de Abreu (EEBA) e parte da administração do Departamento Autônomo de Água e Esgotos (Daae), o prédio que hoje é a sede da Casa da Cultura ficou fechado por vários anos.

Depois de algumas tentativas frustradas junto à Prefeitura para reabertura do local, artistas como Euzânia Andrade (artista plástica) e Lauro Monteiro (artista plástico, na época diretor teatral), entre outros, “tomaram posse” do imóvel e começaram a dar aulas gratuitas. “Tudo o que conseguimos com o Waldemar De Santi (então, prefeito) foi a abertura da porta. Entramos, limpamos e começamos a trabalhar”, lembra Euzânia. A resposta positiva da população conseguiu mantê-los ali por seis anos até serem, segundo o grupo, colocados para fora do espaço.

O posicionamento da Prefeitura gerou a transformação do Movimento Pró-Política Cultural de Araraquara na Associação dos Produtores e Artistas Unidos de Araraquara (A.P.A.U. de Arara). “Essa oficialização do movimento funcionou como o start para a realização da Semana Luiz Antônio”, lembra Luiz Amaral. “Foi um movimento essencialmente político, de ruptura com um esquema que chamávamos de cultura de balcão”, aponta Francisco de Carlo.

Foi também durante os anos 1980 que esse mesmo grupo de artistas comandou ações para inserir a Fundart na Lei Orgânica do município; sofreu com o assassinato de Luiz Antônio Martinez Corrêa, ocorrido em 1986, no Rio de Janeiro; viu o batismo da Casa da Cultura com seu nome; e, como outros saldos de sua luta, assistiram à criação da Secretaria Municipal de Cultura e do Conselho Municipal de Cultura.

Naquele junho de 1989, as atividades da 1a Semana foram realizadas na calçada da Casa da Cultura (ainda fechada para o acesso dos artistas que promoviam o evento). “Zé Celso Martinez Corrêa tocou piano em plena calçada, ao meio-dia. Foi marcante”, recorda Edna Portari. Em 1992, o evento é assumido pela Fundart e passa a integrar o calendário oficial da cidade. (Leia mais na página C2)


Luiz Antônio e o espírito múlti

Diálogo entre os vários setores da arte. Esse era o foco artístico do grupo de artistas araraquarenses que formavam o Movimento Pró Política Cultural em Araraquara, berço de nascimento da Semana Luiz Antônio Martinez Corrêa. Por trás de toda a ação política estava o desejo de tornar a riqueza cultural da cidade conhecida e respeitada por meio da mistura de linguagens, tanto nas atividades do vento propriamente dito como na troca entre os artistas. Ao fazer um balanço dos 20 anos de realização da Semana, oito artistas que foram sujeitos de sua criação falaram ao Tô!Ligado sobre suas avaliações do que era e o que se tornou o evento.

Edna Portari (artista plástica): Acredito que tudo tem que ser repensado porque senão vira acomodação. Hoje, a maioria dos participantes vem de fora. Isso é bom para enriquecer a Semana, mas minha preocupação é com a mostra da produção local. Hoje, quem participa do evento desconhece sua história. Então, minha pergunta é: como será daqui a 20 anos?

Maribel Santos (artista plástica): Acho que é muito importante um resgate da história da nossa luta. Tanto os participantes da Semana como a população precisam saber o que aconteceu para o evento chegar até aqui. Para mim, a grande diferença é que naquela época não tínhamos que alimentar nosso ego. A necessidade do grupo era uma preocupação latente de unirmos todos os segmentos da arte. E isso falta hoje. Falta os artistas saberem qual é o seu papel na política cultural da cidade.

Bernadete Guimarães (artista plástica): O que vivemos há 20 anos foi um momento de vulcão estourando que se apagou no caminho. Sinto a nova geração de artistas araraquarenses pouco unidos. Boa parte do que há em termos culturais em Araraquara hoje é fruto do que foi começado há 20 anos. E agora, sinto a produção artística de Araraquara diluída.

Sueli Ferrers (artista plástica): Não sei medir os resultados daquela efervescência toda nesse setor. Quando se está junto a coisa fica mais forte, mas houve um afastamento no grupo. É claro que não seria possível ficar naquilo sempre, mas questiono como as artes plásticas de Araraquara absorveram tudo.

Francisco di Carlo (ator): Não dá para querer eternizar as coisas. Há 20 anos vivíamos um outro momento. Mas acredito que, também, era tempo onde vivíamos mais livres politicamente. Hoje, de novo, a cultura caiu no discurso oficial. Nós éramos reféns do discurso e a nova geração é refém da oficialidade. Houve um ganho, mas isso não poderia gerar acomodação. E gerou. Falta aos artistas noção de alcance e o resgate da identidade do artista-cidadão, que era a nossa bandeira.

Marcelo Henrique de Lima (produtor cultural): As atividades da Associação conseguiram força dentro da comunidade e a demanda cresceu com necessidade de ampliação de conquistas. O grande avanço que o movimento trouxe para a cidade foi pleitear a Lei de Incentivo da Cultura, democratização da Fundart, criação da Secretaria Municipal de Cultura, etc. Nosso movimento vivificou a cidade com as atividades culturais. Mas uma coisa que partiu da sociedade civil acabou se estreitando com a oficialidade e se diluindo. Isso naturalmente muda o foco de tudo. Precisamos fazer uma reflexão mais profunda da questão cultural na cidade para rever rotas, posturas e os passos adiante.
Lauro Monteiro (artista plástico e secretário municipal de Cultura): A sensação é de que a arte acontece e cresce na crise. Lamento que a Associação tenha terminado, mas ela escreveu uma página importante da história de Araraquara. Os avanços foram muitos na direção da democratização da cultura. Hoje a Semana é um festival nacional de teatro e atingiu os 20 anos, ano após ano. Infelizmente, o distanciamento das discussões da realidade local deixa a memória de Luiz Antônio de lado. Hoje, creio que seja necessária um maior e melhor entrosamento da classe artístico-cultural da cidade.

Luiz Amaral (professor universitário): A cultura não é penduricalho de expressão política alguma. Não me eximo de uma mea culpa porque a questão que se põe ao se completar 20 anos da Semana é de memória, história e interpretação. É culpa nossa o abandono das novas gerações e costumo me penitenciar na sala de aula. A democratização tem que acontecer na arte e não na história. E o discurso oficial coloca à margem essa memória histórica. A vivência não precisa ser como foi há 20 anos, mas o caráter plural de Luiz Antônio não pode se perder. Nesse sentido, o processo deixou a desejar. Não se pode abdicar da tradição em nome da novidade. Sem tradição não se entende o passo do avanço. É preciso conhecer a matriz para saber onde romper. E esse risco é sério e me preocupa. Há, para mim, uma certa frustração no ar. Nosso grupo não tomou pé de que estávamos construindo a história e agora estamos carentes dessa história que fomos sujeitos.